Arquivo | dezembro, 2011

me fizeram enxergar coisas belíssimas esta manhã…

10 dez

flyer finalizado

Durante o trabalho que fiz com a Pri (já escrito no post anterior) ocorreu um dos momentos mais emocionantes da minha carreira como ilustradora…

Marcamos uma reunião para fazermos o briefing dos desenhos da peça de teatro.
Sábado de manhã, padaria lotada e nós duas sentadas numa mesinha, conversando muito.

Conversas malucas, porque brainstorm é assim!!! Sai cada loucura!!

Discutíamos como representar as mudanças físicas da adolescência.

O corpo crescendo desproporcional e de uma hora para outra, quem sabe uma menina gigante em seu próprio quarto pequeno? Representaria essa inadequação, esse sufocamento de não se encaixar naquilo que sempre havia antes, inclusive seu corpo?

esboços iniciais

aquarela em processo

estudo com trabalho digital feito


E se desenhássemos uma menina correndo com uma bolsa aberta de onde caíssem objetos infantis deixando uma trilha? Como se ela abandonasse a vida infantil, que se transformaria em caminho já percorrido… A bolsa vazia simbolizaria os novos conhecimentos da adolescência que serão adquiridos ainda? A menina correndo porque adolescente sempre tem pressa?

E o fato da adolescência ser um momento de estranhamento e transição, de perspectivas desconhecidas? Talvez uma cama numa praia? Se tem o estranhamento de ver a cama nesse cenário descabido? E a imensidão e perspectiva do futuro através do barco no horizonte do mar? Um barco de papel feito por crianças mas que também significa este” sair para navegar, sair para o desconhecido…”

esboços iniciais

aquarela em processo

estudo com trabalho digital feito


E todos os mil pensamentos de uma adolescente buscando construir as suas próprias idéias? Quem sabe um rosto onde os olhos sejam janelas de salas e quartos habitados, os brincos de gaiolas abertas e ninhos de pássaros dentro da orelha, portas de diferentes trancas no pescoço, cabelos que se transformam em ondas com navios prestes a naufragar mas também seriam montanhas onde um menino planta árvores… Um rosto de vidas paralelas sendo vividas, de experiencias diversas e possibilidades infinitas… Será?

e assim ia…
Nós duas na maior empolgação, até que uma senhora de seus 50 anos se levantou e veio lentamente desviando das pessoas.

Parou em frente a nossa mesa e disse:

– Eu estou indo embora mas não pude deixar de vir falar com vocês! A reunião de vocês é muito interessante! Muito boa!  Vim agradecer porque vocês me fizeram enxergar coisas belíssimas esta manhã! Muito obrigada!

Então ela se virou e saiu devagar, tomando muito cuidado e com sua bengala batendo suavemente nos móveis da padaria.
Ela era cega.